segunda-feira, 21 de março de 2011


Discurso proferido na homenagem a Bonifácio da Silva Alves Teixeira.

Exmos. Senhores convidados


Minhas Senhoras e meus Senhores

Agradeço imenso o convite formulado pelos responsáveis autárquicos locais para proferir umas curtas e despretensiosas palavras a propósito desta merecida homenagem a Alves Teixeira.

Neste momento solene, a oportunidade de falar sobre o ilustre e generoso vidaguense que foi Bonifácio da Silva Alves Teixeira confere uma grande honra a qualquer cidadão que goste desta terra. Por essa razão, eu estou feliz e muito orgulhoso.

Alves Teixeira nasceu em Vidago decorria o ano de 1849. Num tempo em que a nossa actual Vila pertencia à freguesia de S. Tomé de Arcossó. Foi filho de António Alves Teixeira e de Libânia da Silva Alves. Os seus pais geraram ainda mais quatro irmãs: Maria Joaquina, Catarina, Cecília e Filomena. Somente a irmã, Maria Joaquina casou, tendo desposado José Manuel de Souza Fraga. Este casal viria a estar na origem da enorme e conhecida família Fraga, desta estância termal.

Na verdura dos seus catorze anos, Bonifácio emigrou para o Brasil onde permaneceria até 1885. No Rio de Janeiro, juntou-se a seu tio paterno, Nicolau Teixeira Alves, importante comerciante que, muito mais tarde, lhe legaria o seu negócio em virtude de vislumbrar no sobrinho grande inteligência e raras qualidades humanas.

O nosso homenageado herdou, para além da parte que lhe coube do património dos pais, a riqueza de seus tios, Nicolau Teixeira Alves e também Catarina, mulher solteira que vivia em Vidago. Uma grande fortuna para aquela época!

A sua situação económica e a vontade de conhecer outros povos e diferentes culturas motivaram-no a viajar por vários países da Europa, Ásia e América. Este facto, culturalmente, tê-lo-á enriquecido imenso. O contacto com outros povos, naturalmente de regiões mais desenvolvidas que a do seu meio, pode muito bem ter influenciado a sua própria formação cívica e ter conferido grande acréscimo à sua cultura geral.

Bonifácio Teixeira morreu solteiro e sem filhos. Considerava-se ateu. Todavia, esta sua condição nunca obstou a que fosse na vida um homem de significativos valores morais. Era grande a sua solidariedade para com o seu semelhante. Fustigado por uma implacável doença na garganta e, quem sabe, por ignorar o temor a Deus, suicidou-se aos sessenta e um anos, no Verão de 1910.

No dealbar da implantação da República, o palco da premeditada desistência da vida foi a sua granítica residência, onde hoje se encontram sedeados os serviços da Junta de Freguesia de Vidago e a Galeria de Arte – Maria Priscila.
Está sepultado no cemitério de Vidago cuja campa está demarcada por um austero e discreto gradeamento de ferro. Ali jaz uma inesquecível figura humana de que todos os vidaguenses bem podem orgulhar-se!

Em 1913, três anos após a sua morte, ficaria perpetuamente ligado à Escola Agrícola Profissional, à qual foi, muito justamente, atribuído o seu nome, uma vez que o projecto desta foi minuciosamente descrito no seu fascinante testamento e financiado pelo seu legado.

É o momento de fazer um forte apelo aos presentes para que leiam e façam uma cuidada reflexão sobre o testamento de Bonifácio Alves Teixeira às gentes desta terra!

Pouco importante se torna saber em que medida o teor do documento foi ou não rigorosamente cumprido. É muito mais relevante, por um lado, evidenciar o espírito altruísta que presidiu à elaboração do mesmo e, por outro, enaltecer a visão do futuro que este homem demonstrava.
A Lei vigente na altura tornava praticamente inexequíveis uns quantos desejos seus, também obstaculizados pelas condições de mercado de então. Por exemplo, sabe-se que a sua casa não foi vendida mas sim adaptada à tal escola de meninas como era seu desejo. Ao longo dos tempos a sua então residência sofreu várias transformações e desempenhou diversas funções. Nos tempos que passam ali funcionam os serviços da autarquia local. Trata-se de um aproveitamento digno, como digna é a memória do seu antigo proprietário. Também a Escola Agrícola nunca funcionou nos moldes exactos por si perspectivados. Porém, continua presente na Vila sob a tutela administrativa do Ministério da Agricultura.

Um outro desejo manifestado no singular testamento foi a construção de uma escola para rapazes com dinheiro seu. Apenas em 1931, vinte e um anos após a sua morte, o seu desejo se transformou em realidade. No lugar do Monte Meão foi adquirida uma casa para esse fim, a Manuel Gonçalves Aleixo, por 30.000$00.

Muito relevantes são as preocupações de carácter ambiental evidenciadas no documento e que são reveladoras de uma mente sã e bem moderna para aquela época. Um século depois, as palavras insertas no seu testamento, a este propósito, ainda sensibilizam quem tem oportunidade de as ler.

O seu texto releva também alguns princípios morais que deveriam reger a conduta dos seres humanos, enquanto simples cidadãos ou no desempenho de cargos públicos. Cem anos depois, que grande actualidade tem este reparo efectuado por Bonifácio Teixeira! Esta importantíssima parte do seu documento evidencia bem a importante referência social que terá constituído o homenageado na então pacata aldeia de Vidago.

Mostra-nos também o que foi a sua preocupação com a educação e formação cívica e profissional, principalmente, dos seus conterrâneos. A formação das crianças como futuro das sociedades do amanhã e a que Bonifácio alude com bastante frequência no texto é nota de merecedor destaque. Defendia a inserção escrita em quadros adequados nas escolas de máximas morais com o intuito de que os homens de amanhã interiorizassem as mensagens nelas contidas. Este pensamento releva bem a formação cívica de Alves Teixeira.
Também não esqueceu os agricultores, homens sacrificados de sempre. Desejou e imaginou um grande desenvolvimento agrícola para toda esta região. Projectava uma Escola Agrícola Móvel da qual viriam a beneficiar todos quantos trabalhavam nas árduas tarefas da agricultura.

Por tantas e tão belas razões Bonifácio Alves Teixeira tem o direito de que consideremos o seu testamento como algo que visava, não apenas legar, generosamente, o seu património ao povo da então aldeia que ele amava e era também a sua, mas, sobretudo, como um documento impregnado de uma enorme nobreza de sentimentos e também imbuído de uma rara visão de um futuro que ele perspectivava, mais para os outros, do que para si próprio.

Por este conjunto de nobres razões este texto que nos legou pode, muito bem, ser considerado um testamento singular.

Saibamos, pois, merecer a verdadeira lição de humanidade, benemerência e
altruísmo que Bonifácio Alves Teixeira nos deixou.


Muito obrigado.

Vidago, 27 de Junho de 2010

                                                                                     Floripo Salvador

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