domingo, 30 de outubro de 2011

E ainda os 75 anos de Golfe em Vidago

E para continuar as celebrações dos 75 anos de golfe em Vidago, deixo aqui um bilhete postal escrito a 15 de Agosto de 1951, de Vidago para Lisboa.


Legenda: Vidago - (Campo de Golf)
                Uma fase do jogo de campeonato

Bilhete postal gentilmente emprestado ao Blog "Meu Vidago" pelo amigo e vidaguense Carlos Queirós.

Um abraço e boas tacadas...

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Água de Vidago e Álvaro de Campos (1929)

DILUENTE

A vizinha do número quatorze ria hoje da porta
De onde há um mês saiu o enterro do filho pequeno.
Ria naturalmente com a alma na cara.
Está certo: é a vida.
A dor não dura porque a dor não dura.
Está certo.
Repito: está certo.
Mas o meu coração não está certo.
O meu coração romântico faz enigmas do egoísmo da vida.

Cá está a lição, ó alma da gente!
Se a mãe esquece o filho que saiu dela e morreu,
Quem se vai dar ao trabalho de se lembrar de mim?
Estou só no mundo, como um peão de cair.
Posso morrer como o orvalho seca.
Por uma arte natural de natureza solar,
Posso morrer à vontade da deslembrança,
Posso morrer como ninguém...
Mas isto dói,
Isto é indecente para quem tem coração...
Isto...
Sim, isto fica-me nas goelas como uma sanduíche com lágrimas...
Gloria? Amor? O anseio de uma alma humana?
Apoteose ás avessas...
Dêem-me Água de Vidago, que eu quero esquecer a Vida!


Álvaro de Campos*
29-08-192

*Álvaro de Campos é um dos heterónimos mais conhecidos do poeta português Fernando Pessoa.


Bonito poema de Álvaro de Campos, e a mim "dêem-me Água de Vidago" para continuar a andar por aqui...

Um abraço e até breve...





























segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Linha do Corgo

Este post é dedicado a todos os amigos, ex-utentes, apaixonados por comboios, defensores do regresso do comboio à linha do Corgo e em especial ao meu amigo Luís Gonçalves, grande lutador da causa "QUEREMOS O REGRESSO DO COMBOIO À LINHA DO CORGO"

Linha do Corgo

A linha do Corgo é de via estreita e ligava as estações da Régua e Chaves, num total de 96,350 Kms.
O desejo dos transmontanos na construção desta linha é demonstrada pelas concessões que chegaram a ser dadas a Maximiliano Shereck (1873) e a Alberto da Cunha Leão e Júlio Cabral (1897) para construção da via-férrea entre Viseu e Vila Real. No entanto, não se conseguiram progressos nesta linha, mas o despacho do Governo de 19 de Dezembro de 1873 e publicado um mês mais tarde, dava permissão a Maximiliano Shereck para construir um caminho-de-ferro americano na Estrada Real nº 7, entre a Régua e Vila Real.

Mais tarde, em 2 de Maio de 1875, e através de escritura esta concessão passa para a Companhia Transmontana, empresa criada para esse efeito pelo anterior concessionário e João V. da Silva, membros da direcção da nova companhia, com sede no Porto.

A Companhia Transmontana iniciou a construção desta linha em 19 de Fevereiro de 1875. Este caminho-de-ferro para caros de sistema americano e puxados por animais iria ter uma extensão de 26,400 Kms., bitola de 900 mm e as seguintes estações: Vila Real, Cumeeira, Banduja, Stª Marta de Penaguião e Régua.
Após a conclusão da sua construção da linha foi inaugurada, num Domingo, 26 de Setembro de 1875. A viagem entre a Régua e Vila Real demorou 2H45!

Só em 1890 é que os transmontanos voltaram a sonhar com um novo caminho-de-ferro para a sua região, com o Governo a decidir quais as linhas a construir a norte do rio Mondego, sendo a linha do Corgo uma das escolhidas e ficando assente que iria somente até Vidago e que esta seria um complemento da linha do Douro. Mas acontece que, no concurso aberto em 1902, previa-se a construção de uma linha ferroviária a começar na Régua, passando por Vila Real, até Chaves, e seguindo até à fronteira com a vizinha Espanha.

A linha, a cargo dos Caminhos de Ferro do Estado, começou a ser construída a partir do dia 17 de Fevereiro de 1903, mas seriam necessários 7 anos para que a 1ª fase fosse concluída. Esta 1ª fase foi inaugurada a 20 de Março de 1910 e chegaria até Vidago, embora o comboio já chegasse a Vila Real, desde 1906.




Devido a perturbação que a 1ª Guerra Mundial (1914-1918) provocou no nosso País e a indecisão quanto ao trajecto a adoptar até Chaves, só em 28 de Agosto de 1921 é que a locomotiva chegaria a Chaves.





Entre Chaves e Vila Real, a população desta região transmontana servida por este meio de transporte ficaria sem ele, devido ao seu encerramento, a partir de 1 de Janeiro de 1990.

O troço restante, entre a Régua e Vila Real, foi encerrado pela operadora Rede Ferroviária Nacional a 25 de Março de 2009, por questões de segurança, tendo apanhado de surpresa as populações e autarquias que eram servidas por este meio de transporte.

O MCLC - Movimento Cívico pela Defesa da Linha Corgo, já disponibilizou uma Petição Pública pela Linha do Corgo.

Para assinar a Petição basta clicar aqui, é simples e importante.

Um abraço e boas memórias do saudoso Texas...

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Termalismo público em Vidago - O regresso

Acabou de chegar-me uma notícia de um amigo que trabalha no semanário Expresso sobre o regresso do termalismo público em Vidago. Depois de ler a dita notícia, fiquei contente mas também um pouco apreensivo porque quando estas coisas vêm do lado do poder local, há que desconfiar...
Agora vamos à notícia.

Chaves e Vidago

7 milhões de euros para termalismo público

O termalismo público está de regresso a Vidago. A Câmara Municipal de Chaves e a UNICER estabeleceram uma parceria de colaboração que irá permitir a construção de um balneário termal em Vidago. Mas, os investimentos nesta área não ficam por aqui. Pela primeira vez, a nível nacional, será criado em Chaves um Centro de Competências em Turismo, Termalismo, Saúde e Bem-Estar, ao mesmo tempo que o processo da construção de uma nova unidade hoteleira em Pedras Salgadas, inserida no projecto termal da Unicer, também teve novos avanços.

É um dos maiores investimentos feitos no distrito de Vila Real, no âmbito do termalismo público, que tem como protagonistas a Câmara Municipal de Chaves e a empresa Unicer. Depois de alguns anos de serviço público de termalismo interrompido, a vila de Vidago vai recuperar o seu estatuto e voltar a ser procurada por aquistas e doentes que precisam de tratamentos termais. Esta aposta na qualificação e modernização dos equipamentos termais do concelho, nomeadamente em Chaves e Vidago, foi assumida pelo presidente do Município, João Baptista.

No que concerne a Vidago, apesar da oferta privada da Unicer, a concretização do projecto está a ser aguardada com muita expectativa, sabendo-se do reflexo económico que o termalismo público pode trazer à vila. A interrupção desta oferta, durante alguns anos, provocou no sector do alojamento e restauração muitos prejuízos e obrigou ao encerramento de pensões, residenciais e hotéis.

O novo balneário, a construir, terá características inovadoras, conforme nos adiantou o autarca. "Temos um projecto para um Balneário Termal em Vidago em coordenação com a Unicer. O projecto está a ser ultimado, temos já a aprovação desse projecto no âmbito do PROVER, num montante de 3,3 milhões de euros. Será um investimento num balneário pedagógico, ou seja, um balneário que permita a aprendizagem de práticas termais aos estudantes. Pretendemos formar jovens numa área que é um recurso natural importante. Vidago nasceu com as termas e é para continuar".

A obra terá a duração de 18 a 24 meses e deverá começar em 2012, estando prevista a abertura do balneário em 2014.


José Manuel Cardoso
Será desta vez? A ver vamos...

Um abraço e até breve...

sábado, 15 de outubro de 2011

Igreja de Vidago - Poema

Poema escrito por Ramyro da Fonseca e enviado à esposa, do General António Óscar de Fragoso Carmona (1869-1951), D. Maria do Carmo de Fragoso Carmona, quando a Igreja de Vidago se encontrava em construção.

À Ilma. Exma. Senhora Dona
Maria do Carmo de Fragoso Carmona


No plaino, à luz do sol, inacabada,
Levanta-se a Igreja de Vidago;
a primeira a olhar a Madrugada,
a última no Poente de oiro vago...

Ainda não tem teto nem Altar.
- Guardada pela Noite...E as estrelas
cobrem-na de diamantes, se o Luar
diz missa no seu Livro-de-Horas-Belas...

Fui vê-la num momento de tristeza.
- Também estava bem triste a natureza -
Entrei; depois, parando mesmo ao centro

da nave, em pensamento, - vi-a pronta.
"Que linda!", murmurei, como quem conta:
"Tão pequena! Mas Deus...cabe cá dentro".

Ramyro da Fonseca


É com este poema que me despeço por hoje e desejo-vos um óptimo domingo.

Um abraço e até breve....

domingo, 9 de outubro de 2011

E ainda as Barragens...

Desta vez, deixo-vos aqui o documento elaborado pela Direcção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, enviado aos nossos amigos da União Europeia contra o Estado Português.

 

Plano Nacional de Barragens
Quercus apresenta queixa à União Europeia relativamente a quatro barragens propostas para o Tâmega

A Quercus enviou no final de Setembro uma queixa formal à União Europeia relativa ao Projecto Hidroeléctrico do Sistema Electroprodutor do Tâmega (SET), por incumprimento da legislação comunitária – nomeadamente a Directiva Quadro da Água e a Directiva Habitats. A queixa vem reforçar uma providência cautelar já em curso sobre o mesmo empreendimento.
O Projecto Hidroeléctrico do Sistema Electroprodutor do Tâmega (SET) compreende as infra-estruturas hidráulicas dos Aproveitamentos Hidroeléctricos de Gouvães, Padroselos, Alto Tâmega e Daivões, cuja construção está prevista no Plano Nacional de Barragens, que contempla um total de 10 barragens (8 das quais encontram-se já adjudicadas).
Este projecto apresenta impactes ambientais muito significativos, entre os quais a transformação, fragmentação e degradação dos ecossistemas na bacia do rio Tâmega, incluindo a criação de barreiras incontornáveis para espécies migradoras como a enguia (já dizimada nas bacias do Douro e do Tâmega) e a degradação dos habitats de algumas das últimas alcateias do lobo – espécie classificada em Portugal como “Em Perigo”.
A Quercus considera pois que o Projecto Hidroeléctrico do SET apresenta um balanço negativo de interesse público em termos ambientais e sociais – devido em parte aos impactes negativos, como as perdas irreversíveis de habitats de espécies ameaçadas ou a retenção dos sedimentos, com graves consequências na erosão costeira, para os quais não foi ainda realizado um verdadeiro estudo do balanço custo/benefício. A base de argumentação para o benefício de interesse público (geração de renováveis e redução da dependência energética externa) não está devidamente comprovada e carece de um estudo de alternativas para estes efeitos, que não foi efectuado. Será colocado em causa, de forma permanente e irreversível, o cumprimento dos objectivos de bom estado ecológico noutras sub-bacias das bacias do Tâmega e do Douro devido aos impactes cumulativos sobre a qualidade ecológica das águas.

Directiva Quadro da Água e Directivas Habitats e Aves em causa

O projecto do SET provocará um aumento significativo da poluição nas águas superficiais, conduzindo à deterioração da qualidade da água em todo o curso do rio Tâmega e colocando em causa a possibilidade de melhorar a qualidade das águas de toda a extensão dos rios Tâmega e Douro, a jusante dos empreendimentos. É de relembrar que a Directiva Quadro da Água obriga a atingir o bom estado ecológico das águas em 2015, objectivo esse que o Projecto do SET objectivamente coloca em causa.

Em causa estão também impactes irreversíveis e dificilmente compensáveis sobre várias espécies migratórias – como a truta-marisca e a enguia-europeia, espécies ameaçadas que estão classificadas no “Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal”, como “Criticamente em perigo” e “Em perigo”, respectivamente.

A zona afectada pelo empreendimento abrange um elevado número de habitats aquáticos e terrestres da bacia do Tâmega, incluindo habitats dos quais dependem espécies como o lobo, a toupeira-de-água, a lontra e várias espécies de morcegos e libélulas, muitas das quais espécies prioritárias e cuja conservação é primordial em toda a Europa.
A construção do empreendimento afecta também de forma muito negativa o Sítio de Importância Comunitária (SIC) Alvão-Marão, conforme reconhecido no próprio Estudo de Impacte Ambiental que refere que “as áreas a submergir implicam a afectaçã̃o de extensas áreas de habitat com importante valor conservacionista”.

Comissão de Avaliação emitiu parecer desfavorável a todas as alternativas
Com efeito, o ICNB emtiu parecer desfavorável a todo o projecto dos Aproveitamentos Hidroeléctricos do SET, dados os impactes negativos identificados sobre os valores naturais da bacia do rio Tâmega e também sobre o SIC Alvão-Marão, nomeadamente sobre a integridade dos habitats prioritários e sobre o lobo, espécie prioritária para a conservação.

Este parecer do ICNB levou mesmo a Comissão de Avaliação de Impacte Ambiental (CAIA) a concluir que: “não é possível à CA propor a emissão de parecer favorável para qualquer das alternativas analisadas no EIA, atendendo ao acima exposto, e em particular no que se refere à afectação do sítio de importância comunitária da Rede Natura Alvão-Marão.”

Impactes cumulativos do Projecto não foram avaliados

De referir ainda que não foram tidos em conta os efeitos cumulativos destes empreendimentos no seu conjunto, nem foram associados a outros factores de vulnerabilidade já existentes, como por exemplo a retenção de sedimentos com os decorrentes impactes negativos em toda a bacia do Douro e na zona costeira, e os impactes do projecto em conjunção com outras infraestruturas, como os vários parques eólicos existentes ou projectados. Estes aspectos colocam as infra-estruturas do projecto do SET em incumprimento de várias disposições das Directivas comunitárias sobre Habitats e Água.

Por estes factos, a Quercus considera que o Estado Português se encontra em violação flagrante de várias directivas europeias, nomeadamente a Directiva Quadro da Água, a Directiva Aves e a Directiva Habitats, tendo consequentemente apresentado uma queixa formal à União Europeia relativamente ao Projecto Hidroeléctrico do SET.

Lisboa, 3 de Outubro de 2011

A Direcção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza