Depois de algum tempo de ausência e para começar este novo ano, regresso com mais uma crónica do meu amigo Floripo Salvador. Acabo de receber os seus últimos poemas, sobre Vidago, que foram escritos, com toda a certeza, com muito amor, dedicação e paixão.
Só pode escrever versos assim, quem tem Vidago no coração...
VIDAGO NOSTÁLGICO
I
Em tempo que ardeu
Hoje és nostalgia
De um tempo que morreu!
Foste simples aldeia
No Olmo aninhada
Onde a luz da candeia
Na modesta casa brilhava!
Foste campónio povoado
Onde homens generosos
E do trabalho zelosos
Com o rosto suado
E alimentaram a pobreza!
Tiveste plátanos refrescantes
E pinheiros mansos frondosos
À sua sombra veraneantes
Gozaram tempos ociosos!
II
Das tuas entranhas
Águas brotaram
Que o Mundo admiraram!
Nasceram hotéis e pensões
Vieram muitos aquistas
E também outros turistas
Em inesquecíveis verões!
Foste cura milagreira
De saúde foste fonte
Em terra hospitaleira
Bem cercada de monte!
Tiveste belas amoreiras
Junto à estrada plantadas
Eram amoras de várias cores
Trocadas pelos amores
Em tardes soalheiras
De paixões encantadas!
Foste magia
Em tempo que ardeu
Hoje és nostalgia
De um tempo que morreu!
III
Que nos invade nesta idade!
Tiveste máquinas a vapor
Que passavam em muitas terras
E serpenteavam as serras.
Daqui levavam, às vezes, a dor
Mas noutras traziam o amor!
Tiveste estação e apeadeiros
Resta apenas a recordação
Que vais transmitir aos herdeiros
Dessa antiga geração!
Foste magia
Em tempo que ardeu
Hoje és nostalgia
De um tempo que morreu!
IV
Que durante décadas a fio
A alguns deu de comer
Mas a todos enorme prazer!
Ali se aprendeu a nadar
E a roupa se ia lavar!
E a água com as noras puxada
Os férteis terrenos regava!
Tiveste feiras quinzenais
Onde comerciantes ocasionais
Vendiam tudo o que havia!
Tiveste Escola Agrícola
E também Lagar de Azeite
No rio havia fauna piscícola
Nos prados muita carne e leite!
Foste magia
Em tempo que ardeu
Hoje és nostalgia
De um tempo que morreu!
V
Foste banda musical
Na região, das mais garbosas
Em festas muito pomposas!
Com músicos bem fardados
E de instrumentos afinados
Belos sons se propagavam
Enquanto populares dançavam!
Foste magia
Em tempo que ardeu
Hoje és nostalgia
De um tempo que morreu!
VI
Foste praia fluvial
Onde de todo o Portugal
Recebias elegantes visitas!
De merendas e burricadas
Se fazia uma linda festa
E com as barrigas saciadas
Dormia-se uma bela sesta!
Foste magia
Em tempo que ardeu
Hoje és nostalgia
De um tempo que morreu!
VII
Do golfe foste nobre
Em viçosos relvados
Nos êxitos eram saudados!
Foste parque esplendoroso
De árvores verdejantes
Com troncos pujantes
E de cume frondoso
Que inspiraram pintores
E esconderam amores!
Foste magia
Em tempo que ardeu
Hoje és nostalgia
De um tempo que morreu!
VIII
E de uma Santa generosa
Que protegida por S. Simão
E pela Senhora da Conceição
Foi mulher bondosa
Em tempos muito cruéis!
Neste tempo que ocorre
É tudo muito diferente!
A Fé se desvanece
E tão boa gente
Que agora desaparece
Com ela a Fé morre!
Foste magia
Em tempo que ardeu
Hoje és nostalgia
De um tempo que morreu!
Floripo Salvador - Natal 2011
Um abraço e até breve...
1 comentário:
muito bonito.bem haja
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