terça-feira, 22 de julho de 2014



Vidago e o Outono da Vida!

A outrora cosmopolita e romântica estância termal pode, num curto prazo, estar de volta. As condições naturais para uma vivência saudável e tranquila sempre existiram. Num hiato de três décadas alguns factores se conjugaram provocando a interrupção do desenvolvimento termal da terra: em minha opinião, durante este período de tempo e na generalidade do país, fazer termas deixou de ser moda; o parque termal de Vidago (como tantos outros) ressentiu-se desse facto e todas as infraestruturas de apoio ao turismo termal e de lazer locais degradaram-se ou ficaram mesmo desativadas. As consequências são sobejamente conhecidas: afamados hotéis e pensões encerraram; o emprego sazonal direto definhou e o indireto foi, fortemente, penalizado.

Porém, nos temos que passam, não obstante as grandes dificuldades económicas e sociais que o país atravessa, Vidago e as suas gentes vislumbram uma luz ao fundo do túnel!

Estão em velocidade segura algumas obras de revitalização do parque termal que muito poderão beneficiar a nossa vila e as pessoas que a habitam. São grande exemplo disso, todo o complexo balnear que vai evoluindo na antiga estação ferroviária e, também, a profunda requalificação das avenidas que servem todo o parque termal. Em consequência existe, naturalmente, a expectativa de criação de algum emprego que possa contribuir para a dinamização do tecido social e económico da vila.

Como resultado dos investimentos que estão a ser efectuados outras atividades, direta ou indiretamente ligadas ao complexo termal, também se admite que possam surgir ou expandir-se conferindo à vila condições de vida que permitam aumentar o volume de residentes.

Numa época bem diferente de outros tempos, as distâncias medem-se, agora, mais em termos relativos que em valores absolutos. Assim, Vidago dista das principais grandes cidades periféricas um tempo de viagem relativamente insignificante: Guimarães (1h); Braga (1,15h); Porto (1,20h) e Viseu (1,30h). Esta realidade permite aos seus residentes uma deslocação rápida a estas cidades para resolução de assuntos de menor acessibilidade local e de natureza diversa.

Nos tempos que se atravessam, e atendendo às suas condições naturais, Vidago tem um conjunto de fortes motivos para que aqui se possa viver em paz, sossego e bem-estar! Não esquecendo o título desta crónica, eu pergunto a quem tem algumas ligações familiares, ou simplesmente sentimentais e afectivas, a Vidago, onde melhor pode passar o outono da vida e, talvez, uma boa parte do inverno da mesma desde que Deus e a ciência o permitam?
As quatro estações do ano têm, todas elas, aqui, o seu particular encanto:

O inverno é rigoroso mas toda a região é gastronomicamente rica e o aconchego do lar é convidativo. As noites são mais frias e longas e o sol voa mais baixinho sobre a vila! Mas sente-se enorme prazer estar à lareira observando o crepitar das fogueiras que vão aquecendo o corpo e rosando a face! É tempo das irresistíveis alheiras acompanhadas dos saudáveis grelos e couve penca!

A primavera cobre a vila de um manto belo e perfumado. Uma enorme diversidade de aves que nidificam nas árvores dos parques e também no pequeno rio que atravessa a vila, em direção ao Tâmega, brindam-nos com os seus chilreios e melodiosos sons.


Quando o verão chega a ramagem veste as seculares árvores das variadíssimas espécies existentes em toda a vila conferindo-lhe grande beleza e frescura. Nesta altura há uma maior afluência à vila de turistas e, também, de gente não residente que visita os seus familiares. A prática do golfe tem o seu maior pico de atividade e, podemos dizer, será a época mais cosmopolita do ano!

Depois vem o outono e, naturalmente, esmorece a vida botânica! Constata-se uma alteração profunda no colorido da paisagem local mas, nem por isso, menos belo! Quem subir ao Coto avista uma paisagem soberba: um matizado de cores infinitas em deslumbrante aguarela veste as árvores que se preparam para a renovação, lá mais para a primavera! É o tempo em que as castanhas dos soutos da região começam a desprender-se dos ouriços e, douradas pelo lume do assador, não tardam a chegar à mesa acompanhadas do novo tinto que, lá para o S. Martinho, aí estará também! É, ainda, o tempo em que surgem os tradicionais cogumelos, consequência das primeiras chuvas!

A prática do golfe, outrora socialmente restrita mas hoje popularizada e em dois campos alternativos, está a tirar a vila do anonimato e a torna-la cada vez mais cosmopolita.


Iremos ter condições, a breve trecho e de forma mais funcional, da prática de exercício físico e de uma vida mais saudável, ao alcance de todos, que vai ser proporcionada pelos melhoramentos de requalificação das avenidas termais. Em caminhadas isoladas ou em grupos de amigos, fruiremos da beleza verde de ambas as margens das avenidas, admiraremos o esplendor arquitectónico do Palace e inalaremos o perfume da natureza irradiado pelas copas frondosas das árvores seculares que o envolvem, em grande parte do ano. Depois, o cantar do cuco na Primavera, da rola brava até bem dentro do Verão, da rola mansa durante todo o ano, do melro, do rouxinol e outros sons da natureza (e que fazem inveja a quem vive no bulício das grandes cidades) entrarão melodiosamente nos nossos ouvidos, criando-nos uma agradável sensação de bem-estar e de que a vida nos foge mais devagar!

Por fim é só pedir a Deus e ao tempo que nos deem mais tempo para poder viver ali!  

Daí, a minha convicção de que vai ser bom viver em Vidago!

Floripo Salvador
Julho 2014

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