segunda-feira, 26 de outubro de 2015


O São Simão em Vidago

Celebra-se no próximo dia 28 do corrente mês de Outubro o dia de São Simão. São muitas as localidades do nosso país em que a efeméride é aproveitada para a realização das designadas feiras anuais de São Simão.
Naquela data, também em Vidago, se leva a efeito esta típica e secular feira. Noutros tempos, essencialmente na primeira metade do século anterior, o São Simão em Vidago revestia-se de considerável protagonismo regional dadas as específicas características da mesma. 

Eram tempos em que as trocas comerciais, nomeadamente de índole agrícola, assumiam enorme riqueza e diversidade de produtos. Os camponeses de toda a região viam na feira uma das grandes oportunidades anuais de transacionarem os seus produtos. O São Simão coincide com uma época do ano em que as colheitas estão praticamente efectuadas. Principalmente as nozes, as castanhas, o vinho, a jeropiga, as batatas, o milho e o centeio aguardavam, nesta altura, no celeiro dos agricultores a oportunidade de lhes trazer alguns proventos por forma a providenciarem a compra das sementes para a época que se aproximava e outros bens.

Deve ser realçada a característica muito peculiar de que se revestia a relação dos produtores da região com o comércio local: no dia de feira de São Simão os lavradores, após a venda dos seus produtos liquidavam no comércio da vila as dívidas contraídas ao longo do ano. Nesse mesmo dia começavam a adquirir outros bens que seriam pagos na feira do ano seguinte e assim sucessivamente. Era  a altura propícia, também, para a renovação do vestuário e calçado para toda a família.

Em Vidago, o evento foi pujante em muitas décadas do século anterior. Era uma autêntica romaria que conferia à vila fama e vitalidade regionais consideráveis. Na Estrada Nacional 2, e em frente à fachada do Grande Hotel, barracas de louça de barro vermelho exibiam cornetas, ocarinas e pífaros que faziam as delícias de gente de todas as idades. Naquele tempo, a carismática figura de “Raimundo da Bernardina” era solicitada a dar o aval, antes da compra, da performance do instrumento. Também a “Tia, Alice Padeira” vendia castanhas e jeropiga que confortavam o estômago e alentavam a alma! Na feira aparecia, também, um curioso e musculado exercício físico que consistia em empurrar um carrinho de ferro que, fortemente impulsionado pelo braço humano, subia até provocar o rebentamento de uma bomba!

Noutros tempos, o São Simão entrava pela noite dentro! As castanhas, o vinho e a jeropiga (tão característica desta época do ano) conferiam aos folgazões uma vontade inquebrantável de retardar, o mais possível, o retorno ao lar!

Nos tempos que passam constata-se alguma descaracterização do que foi a secular feira de São Simão em Vidago. A agricultura perdeu a preponderância de outros tempos na vida económica e social de toda a região. O comércio local abandonou as práticas ancestrais de relacionamento com os seus consumidores. Os divertimentos actuais de animação da feira pouco têm a ver com a tradicional popularidade da mesma. Hoje, os produtos transaccionados são comuns aos que encontramos em qualquer superfície comercial dos tempos modernos.

Com alguma nostalgia podemos afirmar que, apenas o sol (mais raro, mas sempre quente e belo nesta altura do ano), pode alegrar e animar um pouco a feira do São Simão em Vidago.

Floripo Salvador
Outubro 2015


(bilhete postal da edição da casa de fazendas e mercearia de António Fraga-Vidago) 



A Capela de São Simão foi mandada construir em 1802 pelo povo e foi até 1942 o primeiro local de culto de Vidago.

Um provérbio para me despedir desta crónica "No dia de S. Simão, quem não faz magusto não é bom cristão."

1 comentário:

Anónimo disse...

O meu sítio preferido em Vidago. Largo do Olmo.
Parabéns pelo Blog

Jorge Pires