segunda-feira, 29 de abril de 2019

"AGITADOR": Folha de propaganda libertária | Vidago 1914

No seguimento do post de ontem, publico a primeira página do nº 1 da folha de propaganda libertária "AGITADOR". Os responsáveis seriam José Bernardino de Oliveira (editor); Júlia da Cruz (directora) e José Augusto Ferreira (gerente), e cuja a propriedade era do Grupo "Avante pelo Futuro". Esta folha libertária, impressa pela Tipografia Peninsular, do Porto, foi publicada em Vidago entre 1914 e 1915.

Sobre os seus responsáveis, até ao momento, só consegui obter alguma informação sobre José Augusto Ferreira e Júlia Cruz.

José Augusto Ferreira foi um Militante de origem social modesta, desenvolveu uma actividade como propagandista libertário em Vidago, onde terá vivido a maior parte da sua vida. Em 1909, organizou a greve dos construtores civis das obras do Vidago Palace Hotel, e foi membro do Grupo Anarquista "Avante Pelo Futuro". Em 1924, este militante continuava activo em Vidago.



No ano de 1913, na sequência da perseguição de Afonso Costa aos anarquistas, Júlia Cruz vai viver para Vidago e lá funda o Jornal "Agitador" ˗ Quinzenário de Propaganda Libertária. Júlia Cruz exerce o cargo de directora desde o primeiro número em 1 de Fevereiro de 1914 até 29 de Novembro de 1914, em que sai de directora por questões de saúde, passando a ser Bartolomeu Constantino, como o próprio jornal informa:

«Aos Camaradas e ao público
Estávamos para suspender a publicação do Agitador, devido à maneira desleal que certos elementos nos atacam; no entanto ainda desta vez não lhe fazemos o gosto, posto que os grupos locais de Vidago e outros elementos dispersos resolveram custear a sua publicação
(...). Toma a direcção do Agitador o velho camarada Bartolomeu Constantino; este facto filia-se apenas em que a nossa prestimosa camarada Júlia Cruz o não poder pelo seu estado de saúde.»

Júlia Cruz, na sua filiação ideológica, particulariza-se por ser "uma das raras militantes simplesmente anarquista (e não sindicalista), embora ligada ao associativismo  operário". O seu percurso de vida esteve longe de ser tranquilo, tanto enquanto companheira de um anarquista, que esteve diversas vezes preso, como depois da sua morte. Nos anos 20, já enquanto companheira do militante comunista Alfredo Cruz, abdicou pelo menos de um dos pilares da essência do anarquismo ao aderir a um partido – o Partido Comunista.


(Publicados 24 números, custo 5 centavos)

Na primeira página do primeiro número do "Agitador", podemos ler o texto que Júlia Cruz assina com o título "Às Mulheres", onde se pode ler uma crítica feroz a uma sociedade que subordina a mulher ao homem:

«A vós, companheiras de trabalho e de infortúnio, a vós que sofreis como eu a dupla escravidão do capital e da maioria do homem “educado” sob a influência do ambiente actual da sociedade podre até aos alicerces (...) algumas de vós abraçais o belo ideal libertário, porque
compreendeis que só com a ampla liberdade que ele preconiza a humanidade será feliz (...) se uma de nós se entrega a um homem é imediatamente considerada como prostituta (...) a nós obrigam-nos brutalmente a seguir a vontade do outro. (...) não sejamos por mais tempo ruínas e cobardes; e para nos libertar do jugo capitalista e da escravidão do homem bestializado pelo meio social (...) unamo-nos todas numa só força para assim levarmos a cabo a nossa emancipação».



Um abraço e até breve...

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