sábado, 20 de março de 2021

Chegada do comboio a Vidago | 111 anos

20 de Março de 1910, chegava a Vidago o comboio a vapor.

O novo meio de transporte, cada vez com mais adeptos, não só aproximava o campo das cidades como fomentava, mesmo que timidamente, um mercado nacional, enquanto se democratizava um pouco o lazer e o turismo permitindo um acesso crescente das famílias às praias e às termas.

Nas primeiras décadas do século XX a linha férrea expandia-se com a construção de ramais como a conclusão das linhas de Évora, de Portimão, do Sul, de Mora, do Sueste, da Beira Baixa e do Vale do Sado. Também no Norte muitas seriam as linhas que veriam o seu traçado aumentado. Foi o caso da do Corgo, com a abertura do troço entre a Régua e Vila Real, depois em 1907 até às Pedras Salgadas e em 1910 até Vidago. Em 1915, um ano antes de Portugal se ver directamente arrastado para a I Guerra Mundial, a rede ferroviária nacional estava praticamente concluída. E já a ninguém passava pela cabeça prescindir do comboio.

        
           
«A máquina a vapor é um dom
do céu, um instrumento de progresso legítimo (...)
Leva o agasalho e o conforto, a limpeza, a saúde,
às choupanas do povo, onde, sem ela, só habitaria
por séculos a miséria extrema»
Alexandre Herculano  




                    
«Sou tão entusiasta pelos caminhos
de ferro que, se fosse possível,
obrigaria todo o País a viajar de 
comboio durante seis meses»
Fontes Pereira de Melo


(planta do rés do chão e do 1º andar na antiga estação ferroviária de Vidago)




Por favor, um bilhete para Vidago!

sábado, 6 de março de 2021

O Adolfo “Pica-Pau”

Lindolfo Dinis Baralho de seu nome completo, apenas era conhecido por Adolfo ou simplesmente Dolfo, ou ainda Pica-Pau e Adolfo dos Bois. Nasceu em Vilarinho das Paranheiras, aqui bem perto de Vidago. Seu pai chamou-se João Baralho e o Adolfo teve ainda mais dois irmãos – O Modesto e o Rosinha. Os três filhos de João Baralho nasceram com  acentuada deficiência mental a que não será estranha, ao que consta, estreita consanguinidade dos seus progenitores.

(Adolfo e os bois na rua Gen. Sousa Machado)


Quando tinha vinte e tal anos,  Adolfo veio para Vidago. João Custódio possuía uma propriedade em frente ao antigo tanque na Estrada Nacional Nº.2, perto do entroncamento para Boticas, designada por Brinhosa. De modo informal, João Custódio convidou o Adolfo a ir trabalhar para casa da sua família. Nessa altura, os sete filhos de Domingos Ferreira e Generosa, eram todos solteiros. No seio desta família, o Adolfo haveria de ficar para sempre. Assistiu ao casamento de Alice Ferreira e partilhou a criação dos seus cinco filhos com um amor e dedicação muito fortes.

As suas acentuadas limitações mentais, contrastavam com o sua pujança física. Muito desajeitado no amanho agrícola, víamo-lo feliz naquilo que talvez melhor sabia executar: de aguilhada na mão guiando os carros puxados pelos possantes e pachorrentos bois dos Custódios, estrada fora, a caminho dos campos.

Provavelmente, guiou os últimos carros de bois que se ouviram chiar em Vidago! Releve-se uma atitude muito peculiar do comportamento do humilde Adolfo:  frequentemente, regressava do campo, carregando pesado molho de milho ou de qualquer outro alimento para os animais, a fim de estes serem pensados de noite. Num qualquer ponto da vila, parava, indiferente à carga que o fustigava. Se alguém lhe perguntava das razões de estar ali especado, o Adolfo, invariavelmente, respondia: estou a descansar!

in Memórias de Vidago de Floripo Salvador | 2004


Adolfo nasceu em Vilarinho das Paranheiras a 4 de Maio de 1918 e faleceu em Vidago, a 15 de Setembro de 1991, com 73 anos. O seu corpo encontra-se sepultado no cemitério de Vidago.



Um abraço e até breve.