sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Estação ferroviária de Vidago | 1972

A fotografia é capaz de registar muitas informações e através disso, é possível que todos esses registos passem de geração em geração, essa é a importância da fotografia. 



(Foto extraída do negativo original | Vidago 1972)




Um abraço e até breve...

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Noite de Reis | Vidago

..."No dia de Reis, cá pela vila, assim como por outras terras da região, é costume antigo, juntarem-se ranchos e à noite visitarem as famílias mais gradas. Nas pequenas quadras cantadas, fazem-se alusões directas ao vinho, `a doirada geropiga, ao apetitoso fumeiro e às cambadas de uvas e maçãs, penduradas nos tectos grecidos, da maior parte das salas.

            Quem vos vem cantar os reis
            De noite pelo escuro
            De certo quer saber
            Se o vinho é maduro.

No nosso tempo, como eram lindos os nossos cantares acompanhados com orquestra, de que fazíamos parte e como nós éramos recebidos em todas as casas!...Começávamos pela casa Oliveira, no Olmo. Subíamos quase imperceptivelmente a escada da rua e no patamar de pedra, com a maior distração, ali resolvíamos quais as quadras a cantar. Formávamos um pequeno círculo, com os rostos um pouco afactados e as mais das vezes agasalhados pelos chailes de algumas companheiras preferidas. Mas tudo vai longe. Ultimamente em manhãs frigidíssimas e chuvosas, o rapazio começa a percorrer as principais casas, a pedir os "reis" ou as "janeiras" como se diz noutras terras.

Não é pelo prazer de cantar, mas sim com mira no que por virtude da sua graça, possam receber das donas de casa, por isso se ouvem quadras como esta:

            Vivam as donas de casa
            Que são uns lindos querubins
            Vivam todos em geral
            E que todos tenham bons fins.

(Texto extraído do livro "Vidago, sua história, origem e formação" de João Oliveira Cruz | 1970)


(Ilustração de Cruz Caldas | Empresa do Bolhão - Porto)


Votos de um excelente Dia de Reis para todos os que mantêm as tradições e insistem em divulgá-las às novas gerações para que as memórias não morram.


Um abraço e até breve...

domingo, 2 de janeiro de 2022

Um postal, uma história | Jornal de Notícias

Postal volta à mão de origem passados quase 50 anos


Pedro Alvellos, à direita, exibe o postal devolvido por Júlio Silva
Foto: Igor Martins / Global Imagens

Colecionador Júlio Silva teve a ideia de procurar na Internet Pedro Alvellos, que escrevera à madrinha, ainda em criança, a dizer como estava a correr o tratamento nas termas em Vidago.

Quem havia de dizer que um simples texto, escrito e enviado pelo correio em 1972, iria juntar dois desconhecidos quase 50 anos mais tarde? Foi o que aconteceu aos protagonistas da história que aqui contamos. Colecionador, Júlio Silva resolveu procurar o autor de um postal que lhe foi parar às mãos, já não sabe quando nem onde, com o objetivo de o devolver. E descobriu-o: aquele miúdo que escreveu à madrinha a partir de Vidago, Chaves, tem agora 60 anos e chama-se Pedro Alvellos.

Os dois encontraram-se esta semana no renovado Café Ceuta, no Porto, e parecia que sempre foram amigos. Mas só há dois anos é que Júlio, ao organizar o arquivo da sua coleção, teve a ideia de procurar quem escreveu os postais que tem em casa, na expectativa de os devolver à origem. O primeiro em que pegou exibia uma das fontes do jardim do hotel Vidago Palace e tinha sido escrito a 23 de junho de 1972.

FOI CURAR A BEBEDEIRA

Juntando à data o facto de a caligrafia parecer a de um miúdo, Júlio pensou que o autor ainda estaria vivo e que seria seria fácil encontrá-lo. E foi. Fez uma busca no Facebook e lá estava Pedro Alvellos, a quem prontamente enviou uma mensagem. Passaram-se alguns dias até haver resposta.

"Então está agora aqui um tipo a dizer-me que há quase 50 anos escrevi um postal?", contou Pedro ao JN, aludindo à estranheza que a mensagem lhe causou. Ainda assim, respondeu e depois viu a imagem digitalizada. Não havia dúvidas de que fora ele, com 11 anos, a escrever a Maria João, sua madrinha e irmã mais velha, hoje com 74 anos.

Pedro tinha ido fazer um tratamento com águas termais a Vidago. Pelo relato, estava quase curado do fígado, que ficou muito maltratado depois da, recorda, "primeira bebedeira" que apanhou, num café do Porto, a cidade onde nasceu.


"ANDO TÃO JEITOSO..."

Foi um mês passado no hotel e Pedro acredita que terá sido a mãe a obrigá-lo a escrever o postal, em que já se denunciava "um malandro". Uma das primeiras frases que escreveu: "Ando tão jeitoso que as raparigas olham todas para mim". Também fez referência ao cão da família e, no momento de mandar beijinhos, não se esqueceu das "Saudades à Emília", a empregada.

O encontro com Júlio demorou quase dois anos, não por causa da pandemia, mas porque Pedro estava muito atarefado a preparar a abertura de mais um hotel - ao longo da vida profissional, geriu restaurantes e assumiu a direção de diversos hotéis, em Portugal e no estrangeiro.

No dia em que recebeu o postal das mãos de Júlio, não se cansava de dizer que "isto é uma história que acontece uma vez na vida". Pedro sabe bem do que fala. Em 2001, estava numa das torres de Nova Iorque quando se deram os ataques de 11 de setembro, em 2004 testemunhou o drama causado pelas bombas em Madrid e, em 2019, viu de perto as chamas consumirem a catedral de Notre-Dame, em Paris.

A devolução do postal foi selada com apertos de mão e palavras de agradecimento. Quanto a Júlio, não pensa repetir o feito, porque muitos postais da coleção não estão escritos ou têm caligrafias demasiado complicadas para decifrar.

Interesse surgiu quando foi para Lisboa estudar

Assessor da Direção numa empresa dedicada a estudos de mercado e consultoria, no Porto, Júlio Silva nasceu em Chaves, em 1968, e viveu em Vidago até ir estudar para Lisboa. Foi lá que, no início dos anos 90, encontrou o motivo da sua coleção, numa feira de velharias. "Numa das barraquinhas, chamou-me a atenção um postal de Vidago. Era o primeiro da fila e comprei-o". Levou logo mais quatro ou cinco e agora tem perto de 500, todos alusivos à vila termal. E já tratou de comprar um igual ao que devolveu a Pedro Alvellos.

Isabel Peixoto e Joana M. Soares


(Bilhete postal escrito por Pedro Alvellos | Vidago 23/06/1972)



(Foto: Igor Martins / Global Imagens)


(Foto: Igor Martins / Global Imagens)





Quero agradecer aos meus amigos todas as mensagens de felicitações por esta minha iniciativa, que resultou na amizade de duas pessoas feita através de um bilhete postal.

(Reportagem na versão em papel do Jornal de Notícias)



Agradecimento: Café Ceuta | Porto


Um abraço e até breve...