quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Noite de Reis | Vidago

..."No dia de Reis, cá pela vila, assim como por outras terras da região, é costume antigo, juntarem-se ranchos e à noite visitarem as famílias mais gradas. Nas pequenas quadras cantadas, fazem-se alusões directas ao vinho, `a doirada geropiga, ao apetitoso fumeiro e às cambadas de uvas e maçãs, penduradas nos tectos grecidos, da maior parte das salas.

            Quem vos vem cantar os reis
            De noite pelo escuro
            De certo quer saber
            Se o vinho é maduro.

No nosso tempo, como eram lindos os nossos cantares acompanhados com orquestra, de que fazíamos parte e como nós éramos recebidos em todas as casas!...Começávamos pela casa Oliveira, no Olmo. Subíamos quase imperceptivelmente a escada da rua e no patamar de pedra, com a maior distração, ali resolvíamos quais as quadras a cantar. Formávamos um pequeno círculo, com os rostos um pouco afactados e as mais das vezes agasalhados pelos chailes de algumas companheiras preferidas. Mas tudo vai longe. Ultimamente em manhãs frigidíssimas e chuvosas, o rapazio começa a percorrer as principais casas, a pedir os "reis" ou as "janeiras" como se diz noutras terras.

Não é pelo prazer de cantar, mas sim com mira no que por virtude da sua graça, possam receber das donas de casa, por isso se ouvem quadras como esta:

            Vivam as donas de casa
            Que são uns lindos querubins
            Vivam todos em geral
            E que todos tenham bons fins.

(Texto extraído do livro "Vidago, sua história, origem e formação" de João Oliveira Cruz | 1970)


(Ilustração de Cruz Caldas | Empresa do Bolhão - Porto)


Votos de um excelente Dia de Reis para todos os que mantêm as tradições e insistem em divulgá-las às novas gerações para que as memórias não morram.


Um abraço e até breve...

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