domingo, 17 de julho de 2011


RESINEIROS DO JUNCAL

(CONTINUAÇÃO)


A Indústria Resineira em Portugal:
- Um pouco de história!
O Pinhal de Leiria

Ao longo dos tempos sempre se associaram a actividade resinosa e os resineiros ao distrito de Leiria. Este facto acontece com certa lógica. Foi sempre uma região de grande densidade de pinheiro bravo, espécie arbórea que, esmagadoramente, contribui para a extracção da resina. O designado Pinhal de Leiria, com origens remotas, é a mata do Estado com maior protagonismo em todo o continente português. Envolve a cidade a norte, a sul e a oeste. Chegou a ocupar uma área aproximada de 12.000 ha. Trata-se de uma enormíssima extensão de 18 km de comprimento por 7 de largura, mais ou menos delimitada entre o vale de Madeiros e a foz do rio Lis.
O Pinhal de Leiria foi sendo, pelos tempos fora, como seria exigido, objecto de variadas acções visando a sua preservação: efectuaram-se regulares sementeiras para substituição de árvores velhas ou abatidas; também pontuais desbastes como forma de corrigir a concentração das espécies e ainda se procedeu ao derrube de árvores no sentido de abrir caminhos que permitissem um mais eficaz combate a incêndios e a propagação destes.
Deve referir-se o facto de o Pinhal de Leiria, no início do século XIX, haver sofrido um largo período de decadência. Foi vítima de alguma desorganização estatal provocada pelas Invasões Francesas, mas também porque houve grandes queimadas em 1806 e 1814. Dez anos mais tarde, por via de adequada regulamentação, o Pinhal de Leiria voltou a ter condições de estabilidade.
Não é pacífico atribuir a razão da existência do Pinhal de Leiria ao Rei D. Dinis. Alguns historiadores admitem a existência de relativa concentração arbórea, naquela região, há já milhares de anos. O que parece não haver dúvida é que o Pinhal de Leiria fez parte da doação de Leiria à Rainha Santa Isabel. E, também, que no tempo daquele monarca foram efectuadas algumas sementeiras de pinhão, alargando a sua área aproveitando o vasto areal. Também é certo que, ainda na primeira dinastia, o Pinhal de Leiria já fornecia muita madeira para a construção, principalmente, de barcos.
A Resina

Desde o seu início, a actividade resinosa começou por contribuir para a fixação do homem em zonas em vias de desertificação ou, mesmo até, já desertas. Os resineiros acabavam por desempenhar, na sua acção diária, um papel importante na vigilância das matas, prevenindo incêndios florestais e dando importante contributo na limpeza das mesmas.
Em 1858 era Administrador-Geral das Matas do Reino, José de Melo Gouveia. O então governante ordenou a instalação na Marinha Grande da primeira fábrica de resina, onde hoje funciona o Mercado Municipal.
Não obstante haver indícios de actividade resinosa, já no início do século XIX, a indústria resineira, propriamente dita, em PortugaI ter-se-á iniciado em princípios do século XIX. Refira-se que o Pinhal de Leiria já fornecia nas décadas de 30 e 40daquele século muito alcatrão, pez cozido e pez cru. Por volta de 1812 surge uma primeira determinação para, nos pinhais de Leiria, se efectuarem sangrias em árvores inúteis e rajudas. Nessa altura seriam afectados apenas 80.000 pinheiros. Naquele tempo muita madeira de pinheiro era utilizada na construção naval que era da responsabilidade do Ministério da Marinha. Os métodos utilizados na extracção da resina eram muito agressivos para as árvores. Foi então que por volta de 1832 o Estado aconselhou alguma moderação na actividade resinosa em matéria de extracção. Mais tarde, corria o ano de 1880, o governante Fontes Pereira de Melo impôs mesmo o fim da actividade com o argumento de que a mesma era nociva aos pinhais.
Nas primeiras décadas do século XX houve a preocupação de conferir formação aos resineiros com o objectivo de não ferir a árvore com profundidade. Era imperioso que também a sua incisão não se alargasse para além do estritamente necessário. A ausência destes cuidados levaria, inevitavelmente, a um fim precoce do pinheiro.
Deve relevar-se o facto de a resina ter desempenhado, em grande parte do século anterior, um importantíssimo papel na actividade económica do nosso País. Da quantidade de produtos oriundos da destilação de resinas houve um especial destaque do Pez e da Aguarrás.
As Fábricas

Por volta de 1910 já existia a Fábrica de Produtos Resinosos - Manuel Henriques Júnior, instalada na margem direita do rio Arunca em Pombal. Mais tarde, esta relevante figura da indústria da resina em Portugal, construiria a sua residência junto à fábrica.
Por volta de 1935 haveria em Portugal um número aproximado de 115 fábricas de resina. Nesse ano laboravam, em Pombal e em Ermesinde, as fábricas da União Resineira Portuguesa, cuja sede era na Rua dos Fanqueiros, 30 em Lisboa.
Pouco antes do início da II Guerra Mundial (1938), a Companhia de Produtos Resinosos, de Manuel Henriques Júnior e com sede em Pombal possuía as fábricas de Pombal, Óbidos, Vila de Rei, Famalicão, Bodiosa, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Pequeno, que integrariam, mais tarde, a SOCER - Sociedade Central de Resinas.
Por volta de 1945 existiam em Portugal umas 124 fábricas de resina, algumas delas, de frágil consistência e de pequena capacidade de produção. As mais relevantes da época eram a CIR (Companhia Industrial Resineira) laborando em Campanhã e Santa Comba Dão; a CPR (Companhia de Produtos Resinosos); a URP (União Resineira Portuguesa); a RN (Resinagem Nacional); a SFPR (Sociedade Fabril de Produtos Resinosos) e a SRA (Sociedade Resineira da Anadia).
Em 1953 aCompanhia de Produtos Resinosos tinha sede na Rua de S. Nicolau, nº. 102, 1º. Porém, no ano seguinte, a sede regressava a Pombal.
Em 1953 nasceu a SOCER – Sociedade Central de Resinas, SARL, com sede na Avenida da Liberdade, 222 – 2º. em Lisboa. Resultou da fusão das empresas, Companhia de Produtos Resinosos, União Resineira Portuguesa e Companhia Industrial de Resinas.
Comendador, Manuel Henriques Júnior

- Um ícon da resinagem!
Natural da freguesia e concelho de Pombal. Nasceu em 10 de Novembro de 1886 e faleceu em 23 de Dezembro de 1965. Este industrial de resinas, que também foi banqueiro, teve na resina o seu primeiro, grande e último empreendimento. Foi administrador do Banco Pinto & Sotto Mayore, na sua terra, fez questão de abrir uma agência bancária. Ali desenvolveu a sua actividade e contribuiu, enormemente, para o desenvolvimento económico e social da terra que o viu nascer.
Por volta de 1957 passou a deter a maioria das acções da SOCER. Implementou as bases da indústria de resinas sintéticas, a RESIQUÍMICA. Em 1959 enfrentou o dilema de ter de fazer opção por um dos seus principais ramos de negócio: a banca ou as resinas. Contrariando a vontade dos seus três genros, que opinavam pela preferência da venda das resinas, mantendo o banco na família, Manuel Henriques Júnior decidiu-se pelo seu verdadeiro amor! Vendeu o Banco Pinto & Sotto Mayor a António Champalimaud e manteve as resinas.
Na sua empresa criou, para aquela época, excelentes condições de segurança, higiene e bem-estar social para todos os trabalhadores. Conferiu uma considerável dimensão social e filantrópica à sua empresa, para aquele tempo. Foi um grande industrial do século XX. Em 1936 foi nomeado para a Junta dos Produtos Resinosos. Esteve ligado à actividade da resina durante meio século.
Nota final

Por fim será de toda a justiça dar os sinceros parabéns ao Juncal pela comemoração dos quatrocentos e cinquenta anos da sua elevação a freguesia. Em minha opinião, esta terra, outrora, de oleiros, serradores e resineiros desenvolveu-se muito. A vila do Juncal é sossegada, airosa e simpática. A sua gente é simples mas afável, solidária e laboriosa. É, sem dúvida, merecedora desta bonita homenagem.
Não será de mais, todos louvarmos a organização deste evento. Ele contribuirá para a preservação de algumas das ricas memórias desta freguesia e da sua gente.
Maio de 2010
Floripo Virgílio Salvador (natural do Juncal).

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