domingo, 29 de maio de 2011

Água Salus Vidago

Como diz este bilhete postal, "C´est la meilleure... Água Salus Vidago"


(Bilhete postal edicão da Litografia de Portugal - Lisboa - não circulado)

Legenda:
É a mais rica das aguas alcalinas.
Facilita a digestão, descongestiona o figado e limpa os rins.
Associada ao vinho ou a outra bebida alcoolica é excelente
e agradavel.

Ao ver este postal, só podemos estar durante a 1ª grande guerra mundial (1914/1918), estes oficiais franceses bem precisavam de águas com gás para estarem bem dispostos para enfrentar as tropas alemãs!

Um abraço e até breve...

Fotografia do Artur Patrício - 1945 (2)

Mais uma imagem do saudoso Patrício, e hoje escolhi esta porque o tema tem muito significado para mim, e também para muitos de vocês.
A Praia de Vidago ficará para sempre na nossa memória como lugar de convívio e de tardes bem passadas à sombra dos amieiros. Quem não se lembra de umas feijoadas feitas logo no Domingo de manhã e levadas depois de carro ou a pé até às margens do rio para serem devoradas pelos adultos e pela canalha!
Depois, era ver os adultos a dormirem uma sesta bem merecida porque a feijoada estava boa e o tintol era "da minha adega", enquanto os putos brincavam com uma bola de cauchu à espera de poderem ir ao banho.
No rio era preciso ter cuidado porque tão depressa tínhamos pé como já não tínhamos e de vez enquando lá se ouvia uma voz "Ó Tonho bai ber a canalha, que anda no rio". Para tirar a canalha do rio era outra tarefa complicada mas bastava dizer "Vinde merendar que já tá pronto!" e lá iam eles com o passo acelerado com os olhos postos numa sande de fiambrino.
Por fim, quando o sol já se escondia por detrás de Pinho, era tempo de arrumar o farnel e de voltar para casa com o sentimento de um dia bem passado e de ouvir dizer "Prá semana boltamos cá com os primos que chegam da França mas trazemos um franginho assado..."

Um abraço e até breve...

sexta-feira, 27 de maio de 2011











O Artur Patrício

Artur Patrício ficou órfão de pai aos sete anos. A sua ascendência beirã era humilde. Seu pai nasceu em Taberna Seca e sua mãe em Benquerenças de Igreja, distando esta aldeia, aproximadadente, dez quilómetros de Castelo Branco. Enquanto adolescente, terá feito um pouco de tudo na vida. Contava que havia sido submetido a trabalho muito escravo, mal remunerado e que a sua condição de rapaz humilde e trabalhador era quase sempre incompreendido. escola da sua vida foram as
ruas de Lisboa. O marçano da cidade alfacinha teve o ensejo de conhecer e conviver com gradas figuras da vida artística lisboeta e, em consequência, surgiram algumas oportunidades de aparecer como figurante numas quantas peças teatrais. Só aos trinta e três anos surgem a aprendizagem e o gosto pela fotografia, mas, muito a tempo de se deixar seduzir definitivamente por ela. Em Lisboa, na Rua Garret, 48, desenvolveu na década de cinquenta o comércio de livros usados, cujo estabelecimento era designado por Alfarrabista Bocage.

Artur Patrício foi ao longo de mais de quatro décadas, uma figura quase indissociável das épocas de veraneio de Vidago. O seu já raro cabelo, presentava-se, não raramente, desgrenhado,facto que lhe conferia um certo ar de dientista. Não dispensava o seu Papillon como atavio. Era uma figura fisicamente franzina, jovial, respeitada e respeitadora. Amava a serenidade, a simplicidade e a pacatez desta gente. Por isso, elegia esta terra para gozo das suas férias de Verão, aliando ao lazer aqui disfrutado, a oportunidade de desenvolver algum comércio inerente às suas actividades de alfarrabista e fotógrafo. Homem de parcos recursos, hospedava-se normalmente na Pensão Santos ou em discreto quarto particular, que alugava para seu aposento, durante a sua permanência na estância termal, comendo onde melhor lhe cheirasse! Muito virtuoso, verdadeiro autodidacta, foi alfarrabista de nomeada. Não só vendia livros, como também oferecia exemplares, generosamente, a pessoas que ia conhecendo, nas noites românticas de entretenimento, passadas nos hotéis e pensões de Vidago, em verões inesquecíveis. Também gostava de fotografia. A sua velhinha máquina, de fole enorme, deliciou muita gente que se deixou apanhar pela sua oportuna objectiva. Depois, não só vendia as fotos, como também sentia um prazer enorme em oferecer algumas aos seus amigos, que podiam ser antigos ou simplesmente de ocasião. Aliás, a generosidade era em Artur Patrício uma faceta muito conhecida de todos. Recorde-se que frequentemente organizava e realizava festas, cuja receita fazia questão de atribuir a uns quantos pobres da terra, por si eleitos como merecedores da sua benemerência.
Excelente declamador, gostava de teatro e fazia questão de representar de modo muito peculiar. Com uma versatilidade incrível, sozinho, representava uma peça. Dispunha umas quantas cadeiras, como se de verdadeiros personagens se tratasse e emprestava-lhes os seus gestos e a sua voz, conferindo-lhes, "A Ceia dos Cardiais" mais gostava de representar a respeito que gostava de  representar e repetia anos a fio, vezes sem conta! Quem não se recorda de o ouvir, de cabelos desgrenhados, rodopiando, a declamar o inolvidável poema  e ovento é bom bailidos" Nas décadas de cinquenta e sessenta, fez as delícias dos residentes e visitantes de Vidago, que tiveram o privilégio de comungar da sua inolvidável, singular e lúdica companhia. Jamais será esquecido por aqueles que tiveram a oportunidade de o conhecer, pois entre todos deixou uma grande saudade e milhares de momentos e pessoas perpetuados em fotos imorredoiras.
 
in Memórias de Vidago - 2004
Floripo Salvador

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Livro Recordação de Portugal - 1945

Aqui há dias adquiri mais um livro onde podemos encontrar 6 imagens de Vidago. O livro "Recordação de Portugal", é do autor Artur Patrício, cujos vidaguenses mais velhos se recordarão certamente, e o prefácio de José Rosado. É um pequeno livro que contém fotografias da Linha de Cascais, Sintra, Lisboa, Vidago, etc. e que foi editado pela "Alfarrabista Bocage" - Lisboa, em 1945.
Sobre o seu autor, dedicarei um post na próxima Crónica do Floripo Salvador.

(Capa do livro - 1945)

Das 6 imagens de Vidago, para hoje, seleccionei esta:


Esta fotografia retrata um grupo de crianças que tomou parte na "ginkana", junto da mesa que presidiu ao festival a favor dos pobres, conforme se pode ler na legenda.
Prometo voltar com as restantes fotografias do saudoso Artur Patrício, mas conhecido pelo Patrício.

Um abraço e até breve...

sexta-feira, 20 de maio de 2011


Grandes Catástrofes (continuação)


A tromba d’água em Loivos
A trinta de Maio de 1955 uma indescritível queda de água na área de Loivos haveria de ter consequências nefastas não só para a população daquela grande aldeia como também para as povoações que lhe ficavam a juzante, entre as quais se encontrava Vidago. Não consta que houvesse desastres pessoais em consequência desta calamidade natural. 
Entretanto foram contabilizados avultadíssimos prejuízos para todos quantos faziam a sua vida nas margens do rio Oura. Nalguns espaços do seu habitual percurso, o rio mudou inclusive de leito, tal era a força impetuosa das suas águas. A estrada que liga Loivos a Vidago ficou de tal forma obstruída que ficaria intransitável durante alguns dias.
A corrente, volumosa e louca, daquele que até ali era um pequeno e manso rio trazia consigo muitos animais domésticos e incontáveis haveres das populações ribeirinhas. Conta-se que, em Vila Verde, o moleiro Manuel Ferreira terá subido para uma árvore, ali aguardando que o caudal permitisse o seu regresso ao lar. Pedras de moinho e represas não aguentaram a impetuosidade das águas e foram arrastadas pela desordenada corrente.
A fome e a miséria fizeram sentir-se principalmente em Loivos. Esta aldeia, a mais sacrificada das povoações afectadas pela grande cheia, foi durante algum tempo assistida em alimentação pela Câmara Municipal de Chaves e ainda pelo quartel militar flaviense.

Nesse mesmo ano e em Junho, os lavradores haviam feito as sementeiras possíveis para aquela época. Mas eis que uma nova cheia, ainda que de menores proporções que a de Maio, acabaria com o resto daquele ano agrícola. Durante dois anos quase toda a região das margens da Ribeira de Oura e que vivia do amanho agrícola ficou numa situação de grande pobreza. Principalmente da memória dos residentes das aldeias vizinhas de Loivos e Vila Verde, a catástrofe de 1955, dificilmente se apagará.

in Memórias de Vidago - 2004
Floripo Salvador

terça-feira, 17 de maio de 2011

Margens do Tâmega - 1914

(bilhete postal da edição de Germano A. Costa - Vidago - 1914)


Postal comprado no hotel Avenida e enviado de Vidago para a Rua Bela Vista à Lapa, Lisboa, em 17/09/1914. Em cima dos selos tem o carimbo "Ambulância Corgo" o que significa que o postal foi despachado pelo comboio da linha do Corgo (Vidago-Régua).

Para aqueles que não conseguem identificar o lugar destas margens, ao fundo à esquerda fica Vilarinho das Paranheiras e em primeiro plano estamos muito perto da ponte que atravessa o rio Tâmega, junto à Praia Fluvial de Vidago.

Um abraço e até breve...

domingo, 15 de maio de 2011



Grandes Catástrofes (continuação)
O grande ciclone
Estávamos em quinze de Fevereiro de 1941, quando essa depressão barométrica varreu impiedosamente grande parte do País e com especial incidência sobre a região norte. Um rasto de devastação ficou por toda a parte, provocando incalculáveis prejuízos, sencialmente em habitações e zonas arbóreas.
Consta que a meio da tarde daquele pequeno dia, do menor mês do ano, o céu se encontrava nublado.
Inicialmente, começou por fazer sentir-se um vento pouco forte e acompanhado de alguma precipitação pluvial. Aparentemente, estava-se perante um normal dia de Inverno. Aqui e ali, o vento, em movimentos espirais, exibia alguns redemoinhos, prenunciadores de que algo estranho estaria para acontecer. Bruscamente, eis que o vento e a chuva ganharam força e abundância. Nas humildes e desconfortáveis casas das aldeias, os seus habitantes começaram por ficar inquietos e quase de imediato o pânico apoderava-se de todas as famílias. Lá longe, mas que parecia mesmo ali junto às velhas e frias paredes de granito, ouvia-se o ranger dos troncos e dos ramos mais fortes dos pinheiros, eucaliptos, oliveiras e outras espécies de árvores. Depois, entrava pelos ouvidos de todos o barulho infernal da madeira a rachar, seguido do estrondo provocado pelo derrube implacável das árvores de maior porte. Os telhados mais frágeis eram arrancados em pedaços compostos por várias telhas que apenas se separavam já em pleno voo. Seguidamente, os menos vulneráveis iam, tenebrosamente, cedendo também à cavalgada desenfreada do vento ciclónico. O terror invadiu os lares e gente houve que procurou as formas mais inéditas com o intuito de se proteger da fúria assassina semeada pelo vento e a chuva. Naquele tempo, os lagares vinícolas faziam parte de muitas casas de agricultores. A sua construção granítica foi refúgio para muitos que viam na suas sólidas paredes, um lugar um pouco mais seguro para se recatarem do eventual desmoronamento da habitação.
A noite, que naquela época do ano chega ainda muito cedo, caiu negra e cerrada. As horas iam passando e não havia meio do ciclone amainar. Pelas duas da madrugada, nas redondezas de Vidago, o vento terá atingido a fustigação máxima. Apenas já bem próximo da manhã seguinte abrandaria o flagelo. Quando o dia começou a romper, as pessoas iniciaram a sua aventura fora de portas, incrédulos e atónitos com o que viram e ouviram durante aquelas infindáveis doze horas. Um rasto de incrível devastação deparava-se-lhes desgraçadamente. Os caminhos de acesso aos campos agrícolas estavam completamente obstruídos, tão elevado era o número de árvores de espécies variadas caídas de forma desordenada. A própria Estrada Nacional 2, já naquele tempo vital para a ligação da região ao resto do País, ficou seriamente danificada e transitável, durante alguns dias. Cantoneiros serraram manualmente uma infinidade de troncos, a fim de que pudesse ser restabelecido o fluxo normal de tráfego.
De evidenciar o facto de a zona florestal envolvente de Vidago ser, na época, riquíssima em pinheiro bravo. Essa situação propiciava que os pinhais fossem explorados para a extracção de resina. Nesse ano os meus pais, oriundos do distrito de Leiria, viviam em Arcossó, onde exerciam a actividade resinosa. Por via dos nefastos efeitos do ciclone, tiveram que abandonar completamente a sua actividade nesse ano e regressar à terra natal, procurando outras fontes de rendimento. Como consequência, tiveram uma efémera passagem pelo volfrâmio nas minas da Panasqueira. Enfim, não só a exploração da resina como muitas culturas agrícolas ficariam naquele ano, em suspenso, com consequências económicas desastrosas para quem, essencialmente, vivia dos magros recursos da terra.
Em Vidago, para além de serem afectados bens comuns a outros locais da região, ficariam para a história da vila o desaparecimento de um dos dois grandes eucaliptos, junto ao portão principal do Grande Hotel. Na sua queda, a enorme árvore derrubou a varanda de Albina Braz que se situava no edifício por cima da meia-laranja. Também o majestoso e secular olmo, que esteve na origem do nome do Largo mais antigo e emblemático da vila - o Largo do Olmo - tombaria em consequência da devastação ciclónico.

in Memórias de Vidago - 2004
Floripo Salvador

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Vidago - Vista Parcial de 1929

"Minha querida Mãe,

Chegamos bem, mas a viagem foi tormentosa, por causa do calor infernal que fez durante ela. Desejamos muito as melhoras de todos. Beijinhos do ....."


(bilhete postal da edição da casa de fazendas e mercearia de António Fraga - Vidago - 13/08/1929)

Este texto foi escrito no verso deste bilhete postal em pleno verão transmontano, estávamos em 13 de Agosto de 1929.  Este postal foi enviado de Vidago para a mãe deste senhor que morava em Sacavém.

Enquanto não chega esse calor infernal vamos usufruindo os prazeres desta estação.

Um abraço e até breve...

sexta-feira, 6 de maio de 2011



Grandes Catástrofes


A história de uma qualquer terra é também feita de acontecimentos tristes e dramáticos. Quantas vezes é tão negativa e dura a marca que esses acontecimentos nos legam, que jamais os poderemos esquecer. A propósito da evocação do tempo, que porventura já  nos escapou há muito, associamos a essa recordação, invariavelmente, também a sina triste da catástrofe que flagelou, impiedosamente e num certo momento, a nossa família, as famílias dos nossos vizinhos e amigos, enfim, o povo da terra que consideramos nossa.


O incêndio no Salão Aurora

O Salão Aurora funcionou onde actualmente está construído o Edifício Campilho e terá sido edificado por Afonso Carvalho – pai de Aurorinha Seixas – em 1928. Documentos fotográficos de 1908, mostram que naquele lugar existiam ao tempo, três majestosos pinheiros mansos envoltos em terreno não agricultado, ladeando a velhinha Estrada Real.
O Salão Aurora era uma moderna casa de espectáculos para a época, onde se faziam teatros e bailes, sempre abrilhantados por grupos musicais da terra, que assim conferiam distracção e proporcionavam prazer aos turistas e, sobretudo, à população de Vidago. Na componente musical intervinha, invariavelmente, gente ligada à família Aguiar, onde, desde sempre, houve pessoas com vocação para a música. Nos últimos dias de  Maio de 1930 um grande incêndio consumiu, num ápice, o Salão Aurora. O célebre Dr. Moreno – médico residente, na altura – habitava no primeiro piso do prédio e possuía no rés-do-chão, o seu consultório que desapareceu, naturalmente, em consequência da grande catástrofe. Naquela época não existiam em Vidago bombeiros. As corporações dos soldados da paz de Chaves e também de Vila Real fizeram o que estava ao seu alcance. O cosmopolita Salão era reduzido a escombros e cinza, em pouco mais de meia hora. Chegou a temer-se que as chamas pudessem propagar-se ao Grande Hotel e também ao Hotel Chaves. Conta-se que, por milagre, os irmãos Lindalva, Afonso e António Seixas, não pereceram no incêndio que devorou todo o edifício. Ainda crianças, encontravam-se dentro de um cesto que os protegia e terão sido retirados à pressa do local do sinistro. Mais tarde e durante algumas décadas, as ruínas do Salão Aurora, dariam guarida a milhares de pombos galegos, que António Carvalho Seixas - filho de Aurorinha e de Antero Seixas – ali criava.


(Edifício do Salão Aurora, primeiro à direita)

in Memórias de Vidago - 2004
Floripo Salvador